A reunião alcançava a parte final, e, na organização mediúnica Bezerra de Menezes retinha a palavra.
O Benfeitor distribuía consolações, quando um companheiro o alvejou com azedume:
– Bezerra, não concordo com tanta máscara no ambiente espírita.
– Estou cansado de ser hipócrita. Falo contra mim mesmo. Posso, acaso, dizer que sou espírita-cristão?
– Vejo-me fustigado por egoísmo e intolerância, avareza e ciúme; cometo desatenções e disparates; reconheço-me frequentemente caído em maledicência e cobiça; ainda não venci a desconfiança, nem a propensão para ressentir-me; quando menos espero, chafurdo-me nos erros da vaidade e do orgulho; involuntariamente, articulo ofensas contra o próximo; a ambição mora comigo e, por isso, agrido os meus semelhantes com toda a força de minha brutalidade; a crítica, o despeito, a maldade e a imperfeição me seguem constantemente.
– Posso declarar-me espírita-cristão com tantos defeitos?
O venerável Bezerra de Menezes respondeu sereno:
– Eu também, meu amigo, ainda estou em meio de todas essas mazelas e sou espírita-cristão…
– Como assim? – revidou o consulente agitado.
– Perfeitamente – concluiu Bezerra de Menezes, sem alterar-se.
– Todas essas qualidades negativas ainda me acompanham…
– Só existe, porém, um ponto, meu caro, que não posso esquecer. É que, antes de ser espírita-cristão, eu fazia força para correr atrás de todas elas e agora, que sou cristão e espírita, faço força para fugir delas todas…
E, Bezerra de Menezes sorrindo:
– Como vê meu amigo, há muita diferença.
Título: A diferença
Autor: Irmão X pela psicografia de Chico Xavier
Livro: Momentos de ouro